A palavra certa é magia
Que diferença faz precisar a palavra incognoscível se do que trata é mesmo o insabível?
Assim Miranda interpela o pai em busca de respostas. Respostas que só ela mesma encontraria, em sua épica jornada pela cidade. Quando chove purpurina em um terreiro de umbanda, ela fica coberta de fina camada de luz. Ou de estrelas. Miranda, que por etimologia carrega já o significado de mulher admirável, confronta sua ignorância bucólica com a concretude da capital de pedra.
Rodrigo Matheus foi muito feliz na concepção do espetáculo, sobre o texto de Aimar Labaki, Miranda e a Cidade, nesta apresentação da Cia. Circo Mínimo. Aliás, Labaki demonstra aqui sua veia shakespeariana em diálogos belíssimos.
A diferenciação cênica de dois ambientes contrapostos, a ilha paradisíaca e a cidade da ditadura, é feita a partir de estruturas metálicas e um tablado sobre o palco. Mas não é só isso. Cada um dos ambientes sopra do palco seu próprio clima. Na ilha, animais silvestres gritam seus silvos e gorjeios. Um anjo praticamente flutua sobre o palco.
Na cidade, pessoas. Pessoas, com seus cacoetes citadinos. Andam de um lado para o outro, em um movimento aparentemente sem sentido, sem objetivo. Talvez, porque não se viva para a felicidade, mas para o movimento. Falando sozinhas, discutindo, reprimindo, repreendendo. Catequizadas com a cartilha da opressão e tornando-se osmoticamente opressoras. Loucas.
Metalinguagem. A personagem Miranda, logo que chega à cidade, dirige-se à platéia, caminha por entre ela, admirando as pessoas. E quantas pessoas!
Claro, há deslizes, ao menos na humilde opinião deste crítico. O humor é abordado, por vezes, de forma canhestra; diria talvez vulgar. No uso de palavras de baixo calão - para minha preferência totalmente dispensáveis. Mas, de qualquer forma, as pessoas riem quando se diz em alta e boa voz um sinônimo chulo do órgão sexual masculino. Não se sabe o porquê.
Porém mostraram-se belíssimas a coreografia de Chris Belluomini, a iluminação de Wagner Freire e a direção de arte de Luciana Bueno, sem falar no trabalho de Angel Andricáin, magnífico.
Para mim, inominável foi a chuva que caiu sobre o proscênio ao final do espetáculo, sobre a trilha do maestro Amalfi. Talvez, porque como o bardo inglês, seja apaixonado pela tempestade. Há muitas tempestades a minha espera.
A peça continua em cartaz, até 5 de outubro, no Teatro do SESI.
segunda-feira, setembro 29, 2008
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